quarta-feira, 16 de junho de 2010

O álcool não é “uma boa idéia”


Falar da bebida alcoólica é discorrer de algo tão antigo que se confunde com a própria história do homem, no primeiro livro da Bíblia lemos “Sendo, Noé lavrador, passou a plantar uma vinha” (GÊNESIS 9:21). Acredita-se que ela tenha surgido ainda no período neolítico, com a prática da agricultura e da cerâmica. Uma matéria da revista “Superinteressante”, intitulada “Dez mil anos de pileque - a história da bebida”, diz que a primeira bebida alcoólica foi uma mistura fermentada de arroz, mel e uma espécie de uva, produzida na China aproximadamente 8.000 a.C.
Na Mesopotâmia, considerada o berço das civilizações, os sumérios desenvolveram 19 tipos de bebidas alcoólicas, destas, 16 tinham a cevada e o trigo como matéria-prima, nascia a apreciada e muito consumida cerveja. No Egito, por exemplo, “Cada um dos trabalhadores que construíram as pirâmides de Gizé, no Egito, ganhava 5 litros de cerveja por dia. Ela era considerada “pão líquido”, um alimento fundamental para que os operários agüentassem uma jornada puxadíssima” (GARATTONI, 2008).
Na Antiguidade Clássica, os helenos desenvolveram aproximadamente 60 tipos de vinho; os romanos, por seu turno, davam grande importância à bebida, especialmente, o vinho, eles até cultuavam o deus do vinho, das festas, do lazer, do prazer e da folia, Baco. É também dos romanos uma curiosa aplicação do vinho:

(...) logo descobriram outra grande utilidade do álcool: ele podia servir como uma espécie de arma química contra os inimigos. Quando chegavam a territórios que desejavam conquistar, uma de suas estratégias era fingir amizade e dar vinho para os povos locais beberem”. No dia seguinte, quando as vítimas estavam acordando de ressaca, os romanos voltavam e faziam um massacre (GARATTONI, 2008).

Partindo de conhecimentos empíricos deste que vos escreve – mais de uma década dedicada ao álcool - é muito provável que os adversários dos romanos acordassem com certa indisposição e uma pontinha de dor de cabeça, ou seja, acometidos dos sintomas da implacável ressaca - entre os usuários da bebida alcoólica há um consenso que a ressaca do vinho é uma das piores - o que devia facilitar e muito o trabalho dos soldados romanos.
Apesar da longa história da produção e de consumo da bebida alcoólica, nada se compara com o impacto desencadeado pela Revolução Industrial, no qual o etílico começou a ser produzido em larga escala, em série, fato que provocou seu barateamento e teve como conseqüência imediata, o aumento do consumo e seus desdobramentos, como por exemplo, o alcoolismo:

Em 1830, cada americano entornava o equivalente a 10 litros de álcool puro por ano, nível superior ao de hoje (8,5 litros). É muita coisa: dá 250 litros de cerveja ou 90 de vinho. Foi aí que o alcoolismo, até então apenas uma inconveniência, passou a ser visto como doença séria – e surgiram as primeiras campanhas e associações contra a bebida, que rapidamente conquistaram mais de 500 mil adeptos nos EUA.
(GARATTONI, 2008)

Atualmente, esta “velha senhora” transita livremente em nossos lares através das tv’s, revistas, jornais, etc. Esta circulação consentida está diretamente relacionada com o fato de este setor ser responsável por grandes montantes de impostos, por exemplo, no início do século passado, os impostos sobre bebidas alcoólicas eram responsáveis por mais de 50% da arrecadação do governo dos EUA. As cifras referentes à bebida são impressionantes, “A AmBev, que integra a maior cervejaria do mundo, a Anheuser-Busch InBev, fechou os três últimos meses de 2008 com lucro líquido de 964,5 milhões de reais. No mesmo período do ano anterior, o ganho foi de 1,132 bilhão de reais” segundo o jornalista Marcelo Migliaccio.
Acho que propaganda de bebida alcoólica deveria ser proibida ou pelo menos fosse veiculada em horário especifico, por exemplo, depois das 22 horas. Hoje, se você for assistir a uma partida de futebol, quer seja domingo à tarde ou quarta à noite, lá estão os comerciais de cervejas. Sempre mostrando uma “visão positiva do álcool”, repleto de personalidades, mulheres bonitas, jogadores de futebol, bichinhos virtuais, etc. Os slogans são por demais criativos: uma “desce redondo”; outra, é um “cervejão”; tem ainda, a “boa” tantas outras, ao final um discreto “se beber não dirija” ,“aprecie com moderação” ou então, “pega leve”.
Um dos grandes atrativos da bebida alcoólica é o seu lado eclético, ou seja, o fato dela se ajustar ao momento. Se você, por exemplo, estiver triste vai beber para esquecer e se estiver alegre, vai beber para comemorar. E, por falar em comemorar ou “bebemorar”, como alguns dizem, uma infinidade de músicas fazem apologia ao uso do álcool “vamos simbora prá um bar beber, cair, levantar” ou “na madrugada, na mesa de um bar/ loiras geladas vem me consolar” e mais “eu bebo sim, e estou vivendo/ tem gente que não bebe e está morrendo” ainda tem “eu vou beber prá esquecer meus problemas” e por aí vai.
No Brasil, a bebida alcoólica figura entre as chamadas “drogas lícitas”, contudo, a situação é alarmante “Estima-se que 10 a 20% da população brasileira seja afligida pelo alcoolismo, que é responsável por quase 75% de todos os acidentes de trânsito com mortes, 39% de ocorrências policiais, 40% das consultas psiquiátricas e 40% dos acidentes de trabalho” (RAULINO). Ainda, segundo este autor, 90 % da população consome álcool, quer seja “socialmente” ou por dependência, a curiosidade e as más influências - eu acrescentaria, a propaganda em todas suas vertentes - são apontadas como as causas do crescimento do alcoolismo entre os jovens.
A Bíblia Sagrada faz admoestações quanto ao uso da “água que passarinho não bebe” está escrito “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (EFÉSIOS 5:18). A passagem de Gênesis que utilizamos na introdução, nos conta acerca da embriaguez de Noé, constitui-se no primeiro relato de um caso de embriaguez documentado. E, como sabemos, teve conseqüências catastróficas, pois Noé amaldiçoou seu filho mais jovem, Cam e sua descendência, por tê-lo visto nu.
Em outra passagem bíblica que ilustra bem as conseqüências da bebida alcoólica lemos “Então, a primogênita disse à moça: Nosso pai está velho, e não há homem na terra que venha unir-se conosco, segundo o costume de toda terra; Vem façamo-lho beber vinho, deitemo-nos com ele e conservemos a descendência de nosso pai” (GÊNESIS 19:31-32). E assim fizeram e o resultado deste ato foi surgimento dos povos moabitas e amonitas, inimigos do povo do Altíssimo Deus, como comprovam os livros Isaías, capítulos 15 e 16, acerca dos moabitas e em Juízes 3.13, a respeito do amonitas.
Portanto, caríssimos, cuidado com a “marvada”, “água que passarinho não bebe” ou “gelada” e tantos outros nomes que essa “velha senhora” recebe. Dificilmente, alguém inicia sua vida etílica tomando cachaça, geralmente, a cerveja é a porta de entrada. Daí chega o dia que o dinheiro não dá prá tomar cerveja, aí vai uma cachacinha misturada como limão, com refrigerante, etc. Depois de um tempo, a “marvada” desce sem nenhuma mistura, ainda que seja rasgando. Importante, fuja da “maior mentira do mundo”, ou seja, aquele convite para tomar “só uma”, geralmente é “só uma”, mas termina em uma dezena, dúzia, caixa...

A graça seja com todos vós, queridos irmãos.

Misael Oliveira
São Luis, 11/06/2010.


REFERÊNCIAS:
1. GARATTONI, Bruno. Dez mil anos de pileque - a história da bebida. IN: SUPER 256, setembro 2008.
2. MIGLIACCIO, Marcelo IN: http://www.jblog.com.br/rioacima.php?itemid=17995
3. RAULINO, Marcelo. IN: http://www.growroom.net/board/index.php?showtopic=26680

Músicas:
Eu bebo sim - Velhas virgens
Beber, cair, levantar - Saia Rodada
Bebe negão - Renato Fechine
Loiras geladas - RPM

Boletim de Junho


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